TRABALHOS GERALDO LUCENA

“ARTE REAL” – BREVE COMENTÁRIO

A execução dos conhecimentos técnicos e espirituais durante a vivência nos três graus básicos, em sua fase final, é, segundo a boa doutrina maçônica, o que se chama ARTE REAL.

É, em poucas palavras, a aplicação prática dessa cognição, considerada como um todo.

Realmente, o obreiro se inicia na aprendizagem, que no passado se familiarizava com a tarefa mais elementar e braçal e, aos poucos ia conquistando progresso profissional, galgando o degrau seguinte de companheiro até atingir o mestrado.

Toda essa trajetória consumia tempo considerável e dependia também do interesse do artesão que poderia encurtá-lo através de seu mérito demonstrado pelo desempenho aprimorado do trabalho.

O Mestre já dirigindo o grupo subalterno constituído de companheiros e aprendizes, era considerado um “Dirigente Perfeito” dentro dos padrões da atividade exercida de construções nas diversas áreas que o empreendimento reclamava. Era “o que mais sabia”; o “magister”, no verdadeiro sentido etimológico.

A chefia que era confiada ao mestrado, exigia de seu titular a qualidade de diretor incontestável, talentoso, competente e dotado de boa psicologia para o comando daquela massa operária.

A lenda de Hiran Abiff reflete toda essa dinâmica durante a construção do Templo de Salomão.

O mestre Hiran Abiff sempre norteou sua conduta profissional e pessoal nesse sentido de perfeição – matéria e espírito –, tanto que foi assassinado por não revelar a “senha dos mestres” dos diversos estágios do artesanato à pessoas indignas. O significado dessa alegoria representa a ambição, inveja, ignorância e fanatismo desses malfeitores. São sentimentos malévolos que nenhum Ser Humano deve cultivá-los, especialmente o maçom.

Esse enfoque de natureza material atinente a ARTE REAL, foi observado por Henri Gray, citado por Jules Boucher (A Simbólica Maçônica – págs. 268 – 11ª. Edição – Editora Pensamento), para explicar sua aparição no mundo da Sublime Ordem: “Os Canteiros” haviam trabalhado para levantar suas obras-primas a mandado dos reis e dos príncipes da Igreja. Por mais privados de instrução que se possa imaginá-los na Idade Média, suas tradições escritas não lhes deixavam ignorar que sempre havia sido assim em todos os tempos e entre todos os povos em que Reis e Padres haviam honrado a Arquitetura. Esse é o motivo pelo qual as palavras “ARTE REAL”, que servem para designar, impropriamente, a Franco-Maçonaria, aplicam-se, na realidade, “Arte de Construir”.

Todavia, o mesmo Henri Gray, ainda citado por Jules Boucher (mesma obra), sustenta que “Os apreciadores das Ciências ocultas pretendem que essas ciências constituíam monopólio exclusivo dos Reis e Padres da antiguidade, e que foi porque elas encontraram refúgio na Franco-Maçonaria que essa Sociedade merece ser chamada de “ARTE REAL”.

Vê-se, assim, que a “ARTE REAL”, por uma interpretação histórica surgiu realmente na maçonaria azul, principalmente na época medieval e foi recepcionada pela Franco-Maçonaria que a consolidou através de seu prestígio conquistado a partir do Século XVIII.

Na verdade, a doutrina que abraça esse entendimento favorável a Franco-Maçonaria, parte do princípio que a intelectualidade e erudição estavam presentes na realeza e no sacerdócio e, assim, eram qualidades dessa elite, propiciando que todos esses movimentos e manifestações de sabedoria tomassem o nome de “ARTE REAL”. Era “ARTE” porquê era Sublime e “REAL” pela origem da Realeza.

Daí ser considerada a Franco-Maçonaria – ARTE REAL –, estendendo-se esta denominação para os “ALTOS GRAUS”, como consequência, no século XVIII.

É de se lembrar, entretanto, que na Idade Média, o artesanato, além do cultivo da hierarquia maçônica, havia o preparo espiritual de grande dimensão prestigiado pelas guildas. E tanto assim que os grandes monumentos construídos na Europa foram catedrais e castelos financiados pelos Nobres ou a Igreja, cuja convivência com os artesãos era harmônica e perfeita.

Com o passar dos tempos continuou a maçonaria operativa a desempenhar essas atividades com toda maestria, impulsionada pela crença espiritual com apoio da Igreja cristã. Só em meados do Século XVII é que começaram suas dificuldades de subsistência na Inglaterra.

A partir daí é que começa lenta e continuamente o que depois veio a ser conhecido como Franco-Maçonaria e aí as atividades da Ordem passaram a ser chamadas de          “ARTE REAL”, absorvendo o acervo de grandes realizações da operatividade pretérita.

O progresso da Especulação foi fator preponderante da transferência do nome “ARTE REAL” para essa Nova Era Maçônica quando foi, na verdade, simples continuação dos ensinamentos da ordem na época medieval.

Acresce ainda que com a implantação dos    “ALTOS GRAUS” no Século XVIII essa novidade fez reforçar esse entendimento, que não correspondia a realidade e consolidou a crença atualmente adotada por expressiva parcela doutrinária.

Sobre esse enfoque da “ARS REGIA”, é digno de referência o pensamento de Joaquim Gervásio de Figueiredo (Dicionário de Maçonaria – pág. 51/55 – 14ª Edição – Editora Pensamento), quando assinala que “Uns têm remontado a origem dessa denominação ao fato de se basearem seus símbolos em atos do rei Salomão; outros a têm atribuído à circunstância de haver sido ela patrocinada por Carlos II, no Século XVII, que dela se serviu para reconquistar o trono da Inglaterra, e outros ainda, à sua reorganização e proteção, no Século XVIII por parte de Frederico II, rei da Prússia. No entanto, parece-nos mais acertada a justificação apresentada por Gédalge no “Dictionnaire Rhéa”, verb. “Art Royal”: “A prática do processo iniciático tem sido sempre denominada ARTE REAL, sem dúvida porque essa arte faz do iniciado um Rei, ‘um Mestre” (SENHOR) de si e da natureza”. E prossegue: “Teoricamente, autêntico Mestre Maçom, grau 3º, é aquele que possui e pratica todos os segredos da ARTE REAL, isto é, da Maçonaria Azul. Em 27 de dezembro de 1774 o Grande Oriente da França substituiu essa antiga denominação por “ORDEM MAÇÔNICA”.

A exposição supra, como se observa, demonstra que o termo “ARTE REAL” surgiu nos primórdios da maçonaria, crescendo na Idade Média e consolidando-se no Século XVIII com a Franco-Maçonaria ou Free-Mason, se desejarem.

O certo é que, como anotado pelo autor citado, desde 27 de dezembro de 1774, o “Grande Oriente da França” substituiu essa antiga denominação por “Ordem Maçônica”. Mas, seja como for, o que importa é que essa aplicação prática das lições maçônicas adquiridas em qualquer fase da vida, sirva para que cada um de nós construa dentro de si um Templo repleto de Bondade e Amor na esperança de aproximação com o GADU .

É uma mensagem esotérica, oculta.

É o que se extrai desse tema maçônico!

 

– A Simbólica Maçônica – Jules Boucher – Ed. Pensamento.

– Grau de Mestre Maçom e seus Mistérios – Jorge Adorm – Ed. Pensamento.

– Dicionário da Maçonaria – Joaquim Gervásio de Figueiredo – Ed. Pensamento.

– O Código da Maçonaria – Pedro Silva – Ed. Universo dos Livros.

– A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática – Jean Palou – Ed. Pensamento.

Autor: Irmão José Geraldo de Lucena Soares
Membro da Loja FRATERNIDADE JUDICIÁRIA, 3614 – Grande Oriente do Brasil
Mestre Instalado,  Grau 33″ do rito escocês antigo e aceito

 

 

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