Breve Estudo sobre o Simbolismo Maçônico
As dificuldades de comunicação de uma geração para outra fizeram com que o homem criasse instrumentos para essa finalidade, pois, como se sabe, todas as línguas, com o passar dos tempos, vão se alterando, especialmente o significado das palavras.
Até mesmo as línguas consideradas mortas não se prestam para expressar o pensamento de uma época para a posteridade em sua totalidade.
O modernismo e a tecnologia dos nossos dias não têm correspondência nesses vernáculos, eis que pararam no tempo e poucos são usados. São línguas clássicas e de estudo limitado; somente os eruditos as cultivam.
Para se ter uma idéia, algumas palavras como rádio, televisão, cinema, avião, etc., não são encontradas na língua latina, pois na época que era falada simplesmente não existiam estes modernismos. E se não existiam não havia a necessidade de uso no cotidiano.
Daí o surgimento desde os remotos tempos, de um meio de comunicação que atendesse essa necessidade, de uma época para outra, de forma que conservasse o verdadeiro sentido do pensamento daquela Era, evitando, assim, diferenciação ou distorção de significado de palavras, ideias, objetos e emoções.
Instituiu-se, então, o símbolo como esse veículo de transmissão de ideias, objetos, emoções e palavras, em forma de figuras, gravuras e esculturas por ser eterno, imutável, inalterável e visível. Associou-se a ideia que representasse esse sinal à facilidade de compreensão no Futuro. Assim, a espada gera a lembrança de força e poder, enquanto uma pomba de cor branca tem o sentido de paz. A cruz, porque era um instrumento de castigo no Direito Romano, evoca um sentimento de suplício e a trolha, união, pois é com a colher do pedreiro que se coloca a massa para unir os tijolos, etc.
A cruz, posteriormente, passou a ser a marca do cristianismo pela morte de Jesus de Nazareno, como sabemos.
Tudo isso é a confirmação da palavra símbolo que emana do grego “sumbolon”, sugerindo a ideia de algo ser reconhecido através de um sinal ou gravura, exigindo conhecimentos técnicos, pelo menos, do observador.
Mas para penetrar na essência dos símbolos é preciso conhecimentos mais aprofundados, pois a simbologia é endereçada para uma camada pequena da sociedade denominada na antiguidade de “escolhidos”. São escolhidos porque foram chamados para o estudo avançado dos mistérios transcendentais das diversas culturas e da Ciência Hermética (o que está em cima é o mesmo que está em baixo e vice-versa), além de outros conhecimentos correlatos.
Só os especialistas entendem o verdadeiro significado oculto do símbolo que a geração transmissora deixou para as subsequentes.
Entretanto, “é mister que cada interessado procure interpretá-lo, compreendê-lo e senti-lo por seus próprios esforços para poder penetrar seus profundos significados.” (Joaquim Gervásio de Figueiredo – Dicionário de Maçonaria – págs. 477- Ed. Pensamento). Ou como também sugere Albert G. Mackey: “A maçonaria não interfere na forma peculiar ou no desenvolvimento da fé religiosa de uma pessoa. Tudo que ela pede é que a interpretação do símbolo seja feita de acordo com o que cada um supõe que será revelado pelo seu Criador. Mas exige muito rigidamente que o símbolo seja preservado e, de alguma forma racional, interpretado, excluindo peremptoriamente o Ateísmo de sua comunhão, pois se não acredita em um Ser Supremo, um arquiteto divino, necessariamente ele deve estar sem uma tábua de delinear espiritual sobre a qual os desígnios daquele Ser foram inscritos para orientá-lo.” (autor citado – O Simbolismo da Maçonaria – págs. 65 – Ed. Universo do Livro)
A Ordem Maçônica por ser voltada para os sentimentos morais, intelectuais e espirituais não poderia deixar de adotar o simbolismo, mesmo porque sendo uma entidade milenar e universal teria de deixar sua trajetória registrada para a irmandade futura e isso só poderia se efetivar de forma imutável e inalterável através desse método, ou seja, a comunicação simbólica.
O simbolismo maçônico, assim, divide-se em emblemático e esquemático.
A primeira espécie tem como característica mais a moralidade e retidão de conduta e é mais facilmente compreendida no meio social, sendo assim dirigida para o indivíduo no relacionamento com seu semelhante.
O compasso, por ser utilizado para traçar um círculo, representa o infinito por não ter começo e fim que, em última análise, é Deus. Deve-se Tê-lo sempre como nosso guia; o esquadro é justiça, retidão e equidade que junto ao compasso oferece a lembrança de que devemos evitar as tentações materiais para a aproximação com o Ser Supremo do Universo. O avental, indispensável para todos os trabalhos maçônicos, é a atividade que todo obreiro tem obrigação de exercê-la na oficina e a régua é a exigência do bom caráter e honestidade de todos.
A pedra bruta, por outro lado, corresponde às imperfeições humanas que serão eliminadas no curso da vivência maçônica; o cinzel noticia a inteligência que ajuda a atividade laborativa dirigida para o Bem. Destina-se também para desbastar a pedra bruta. O malhete, a seguir, é a perseguição do obreiro no aperfeiçoamento de seu Ser, aliado à volição e esforço físico exercido no trabalho.
A acácia representa a vida eterna e está vinculada à lenda de Hiram Abiff.
O simbolismo esquemático, no entanto, refere-se mais para o sistema geomântico, intelectual ou especulativo da maçonaria.
A predominância é a ligação da matéria com o espírito, podendo abranger também a área emblemática, como ocorre com o triângulo contendo em seu interior a letra “G” (geômetra).
O entrelaçamento do compasso com o esquadro constitui na maçonaria azul a predominância da matéria sobre o espírito ou vice-versa, dependendo dos graus básicos.
As Colunas Norte e Sul, inerentes a todos os Templos, têm significados outros e não apenas sustentáculos perpétuos da Ordem Maçônica.
Na espécie emblemática as colunas recebem a nomenclatura de Jechin (ele estabelecerá) e Boaz (na força) e sua compreensão reside na conotação de religiosidade que “ele restabeleceu na força, solidamente, o Templo e a religião de que ele é o centro.”
Vê-se, pois, a presença do GADU nesse texto e a expressão religião (re= atrás; ligião = ligare, do latim, unir = unir novamente) que deve ser entendido como convite a um elo entre o Ser Humano e o próprio GADU, se ainda não se uniu, ou voltar, se já cortou esse vínculo.
Não se trata gramaticalmente de se adotar esta ou aquela religião ou crença, mas uma mensagem abrangente sem nenhuma preocupação de apologia religiosa no sentido vernacular. É apenas uma alegoria; falar de forma diferente para se atingir o resultado desejado.
Por isso, é que a simbologia reclama conhecimentos e preparo intelectual do destinatário da mensagem, ou seja, gnose, para usar uma linguagem grega!
A interpretação desse simbolismo esquemático revela a fragilidade do Homem e o convida a lembrar-se de sua efêmera peregrinação pela Terra e oportunidade de aperfeiçoamento espiritual para a verdadeira vida que é a eterna.
Terá de atravessar o rio e pagar ao barqueiro Caronte a travessia para a outra margem e alcançar a verdadeira vida. Daí o costume de se colocar nos olhos dos mortos duas moedas que servirão de paga a essa travessia de viagem sem retorno!
Algumas civilizações ainda hoje observam esse procedimento fúnebre.
É uma simbologia esquemática cultuada pela maçonaria geomântica ou especulativa dirigida diretamente à espiritualidade dentro dos “Altos Graus” que estamos a exemplificar.
O Templo sem janelas ou aberturas laterais, por sua vez, não é só para abrigar o segredo dos trabalhos que lá acontecem, mas também como recordação do Templo de Salomão na dependência que guardava a Arca da Aliança contendo os 10 Mandamentos recebidos por Moisés de Deus na Cordilheira do Sinai.
Era um lugar sagrado e a energia divina do local não poderia de lá sair nem ser atingida por impurezas externas.
Somente poucos sacerdotes podiam nele ingressar porque eram considerados puros de corpo e espírito pela religiosidade judaica.
Eis outro enfoque da simbologia esquemática de grande penetração celestial do tema lembrado.
Igualmente, referente às Colunas Jachin e Boaz, já comentadas linhas acima, outra interpretação esquemática se faz sentir.
Segundo Jules Boucher (A Simbólica Maçônica – págs. 156 – Ed. Pensamento), ” Jamais houve contestação sobre o sexo simbólico dessas duas colunas, a primeira delas suficientemente caracterizada como masculino pelo IOD inicial que a designa comumente. Com efeito, essa letra hebraica corresponde à masculinidade por excelência. BETH, a segunda letra do alfabeto hebraico , por outro lado, é considerado como essencialmente feminina, porque seu nome quer dizer casa, habitação, de onde a ideia de receptáculo, de caverna, de útero, etc. A Coluna J é, portanto, masculina-ativa, e a Coluna B feminina-passiva. ”
Observa-se com esse entendimento, aliado às romãs existentes em cima das colunas, que é o fenômeno da fecundidade para todos os seres vivos, demonstrando a necessidade de conservação da espécie. Aliás, esse princípio está no Antigo Testamento: Gn. 1, 28; 2, 18 e 2, 24. A romã no simbolismo maçônico representa a união para multiplicação, ensejando, assim, esse sentido de procriação.
Podemos, portanto, afirmar que o simbolismo é uma linguagem universal e eterna, significando que enquanto houver vida humana na terra a comunicação existirá, pois é um meio de transmissão imutável e inalterável de uma geração para outra, de emoções, fatos, ideias, objetos ou princípios, através de figuras, gravuras ou imagens. E o símbolo é exatamente essa figura, essa gravura e essa imagem!!!
Obras Consultadas:
-Bíblia
– O Simbolismo na Maçonaria – Albert Galletin Mackey – Ed. Universo de Livros
– Dicionário de Maçonaria – Joaquim Gervásio de Figueiredo – Ed.Pensamento
– A Simbólica Maçônica – Jules Boucher – Ed. Pensamento
– A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática – Jean Palou – Ed. Pensamento
– A Vida Oculta da Maçonaria – C.W. Leadbeater – Ed. Pensamento
Autor: Irmão José Geraldo de Lucena Soares
Membro da Loja FRATERNIDADE JUDICIÁRIA, 3614 – Grande Oriente do Brasil
Mestre Instalado, Grau 33″ do rito escocês antigo e aceito