SHRÖEDER
Os Rituais de Schröder (pronuncia-se “chreder”) foram aprovados em 1801 pela Assembléia dos Veneráveis Mestres da Grande Loja de Hamburgo, Alemanha, sendo praticados por alemães e seus descendentes em diversos países. No Brasil, com a colonização germânica no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, o Rito estabeleceu-se inicialmente no idioma Alemão. Mais tarde foi traduzido para o Português e hoje é reconhecido pelas Grandes Lojas Estaduais- CMSB, pelo G∴ O∴ B∴ e pelos Grandes Orientes Estaduais Independentes – COMAB.
Os Rituais foram elaborados por uma Comissão presidida pelo Irmão FRIEDRICH LUDWIG SCHRÖDER, nascido em 3 de novembro de 1744 e falecido em 3 de setembro de 1816. Iniciado em 1774 no Rito da Estrita Observância, em 1785 foi eleito V.M. de sua Loja Mãe, a “Emanuel Zur Maienblume”, ficando no cargo até 1799. Entre 1794 e 1814 foi Deputado do Grão-Mestre (Grão-Mestre Adjunto) e, de 1814 a 1816, Grão-Mestre da Grande Loja de Hamburgo e da Baixa Saxônia (naquela época a Alemanha ainda não fora unificada).
O Irm. Schröder gozava de grande prestígio como Maçom e como profano (foi considerado na época, “o maior ator que a Alemanha já teve”) e era reconhecido como um profundo conhecedor da História e dos Antigos Rituais da Maçonaria. Estudou principalmente os livros “As Três Batidas Diferentes na Porta da Mais Antiga Franco-Maçonaria – The Three Distinct Knocks at the Door of the Most Ancient Free-Masonry”, de autor desconhecido, sem dúvida o mais antigo ritual maçônico impresso; e “Maçonaria Dissecada – Massonry Dissected”, de Samuel Prichard, que continha as práticas maçônicas utilizadas em Londres em 1730.
Examinou também, os rituais dos diversos sistemas de graus complementares que proliferavam na Europa daqueles tempos. Suas pesquisas o levaram a abolir os chamados “altos graus”, bem como todo o ocultismo que dominava a Maçonaria Alemã, restaurando o Antigo Ritual Inglês, adaptando-o para a cultura e para o idioma germânicos seus contemporâneos. É devido a essa origem comum nos antigos rituais ingleses que o Rito Schröder é semelhante ao Rito de York (Emulation Rite) sem, contudo, ser uma cópia do mesmo.
O Irm. Schröder entendia a Maçonaria como uma união de virtudes e não, uma sociedade esotérica. Por isso, enfatizou no seu Ritual o ensinamento dos valores morais e a difusão do puro espírito humanístico, dentro do verdadeiro amor fraternal. Preservando a importância dos símbolos e resgatando o princípio que afirma ser “a verdadeira Maçonaria a dos Três Graus de São João”.
O famoso historiador e maçom Findel, na sua História Geral da Franco-Maçonaria, dedica grandes elogios ao Irm. Schröder, como podemos perceber nessa passagem: “Além de maior pureza de objetivos (comparando-se com os do Irm. Fessler que atuava em Berlim) em que se inspiraram seus trabalhos e investigações, sua natureza, sua forma e as circunstâncias exteriores o secundaram ainda mais eficazmente. Estava-lhe reservada a glória de fazer penetrar vitoriosamente a luz entre as trevas do erro, de dissipar as espessas nuvens que obscureciam os resplendores da verdade maçônica e de assentar bases sólidas para atividade de seus Irmãos.”
Pelo seu trabalho e exemplo, o Irm. Schröder é venerado e respeitado hoje, como no passado, sendo homenageado pelas antigas Lojas alemãs e por Lojas e Irmãos de todo o mundo.
Algumas Características do Rito Schröder:
· O Rito Trabalha exclusivamente nos Três Graus Simbólicos ou Azuis;
· Somente os cargos de Ven. Mestre, Vigilantes e Tesoureiro são eletivos;
· O Orador é nomeado pelo V. M. somente para as sessões em que for considerado necessário e não atua como “Guarda da Lei”, que é o próprio V.M.;
· Os demais cargos em Loja: Secretário; 1° e 2° Diáconos; Mestre de Harmonia; 2° Diáconos Adjuntos (Guardas do Templo interno e externo) e Preparador, são nomeados pelo V. M.;
· O 1° Diácono é também o Mestre de Cerimônias;
· São T. as batidas para todos os Graus, variando apenas na cadência;
· Durante as Sessões ritualísticas a Palavra é concedida pelo V. M. através do 2° Vig.;
· Todos os Irmãos usam chapéu ou cartola (“cilindro alto”) e luvas brancas nas Sessões;
· Os aventais: o de Aprendiz é branco e mantém a abeta levantada; o de Companheiro é branco e tem a abeta baixada, circundada por uma borda azul; o de Mestre é branco com uma borda azul que também circula a abeta baixada, sem rosetas ou Taus.
· O avental de Mestre é o mesmo para o V.M. e os Ex-Veneráveis;
· O Rito original não adota a Cerimônia de Instalação de Veneráveis Mestres. É o Reg. Geral da Potência que determina este procedimento adotado pelas Lojas Brasileiras;
· O V∴M∴, em visita a outras Lojas, usa na lapela esquerda, presa a uma fita azul, uma comenda com um pequeno Esquadro;
· Os Ex-Veneráveis, chamados Past Masters, usam na lapela esquerda, presa a uma fita azul, uma comenda com a representação gráfica do 47° Problema de Euclides pendurada a um pequeno Esquadro;
· Utiliza-se Sessões “a campo” (fora do Templo) para assuntos administrativos e também para apresentação de Trabalhos ou Instrução;
· Todos os Irmãos tem direito a Voz e voto (inclusive Aprendizes e Companheiros). É o Reg. Geral da Potência que determina, por exemplo, que para a Administração votem apenas os Mestres Maçons;
· Todas as Sessões são encerradas com a formação da Cadeia de União em um cerimonial próprio;
· Se necessário passar a “Palavra Semestral”, o V.M. formará uma segunda Cadeia de União após encerrada a Sessão;
· Adota-se a “Noite dos Convidados”, que é uma Sessão Branca Especial “a campo” (fora do Templo e sem ritualística) para apresentar candidatos à Loja.
Algumas Características do Templo do Rito Schröder:
· As Colunas J (à esquerda) e B (à direita de quem entra) ambas no lado externo (átrio) do Templo (alguns Templos não apresentam as Colunas B e J);
· Piso em um único nível (sem degraus) para Oriente e Ocidente (algumas Lojas – inclusive a ABSALOM – adotam dois degraus para o Oriente e um terceiro degrau para o Altar do V∴M∴);
· A decoração do Templo pode ser simples, com teto e paredes na cor azul variando apenas na tonalidade (pode-se também utilizar formas artísticas e arquitetônicas para embelezar o Templo);
· O Tapete da Loja, com os símbolos tradicionais da Ordem, é aberto ritualisticamente no centro do piso no Ocidente, substituindo os Painéis dos Três Graus;
· Três Colunas (que podem ser das ordens Jônica, Dórica e Coríntia) encimadas por “Três Grandes Velas” circundam o Tapete (algumas Lojas adotam três grandes castiçais);
· A iluminação do Templo na Abertura e no Encerramento da sessão segue um cerimonial próprio (do Oriente para o Ocidente);
· Um Triângulo ou um Compasso e um Esquadro com a letra G no centro na parede oriental, sobre a cabeça do V.M.;
· Altar (mesa retangular e cadeira sobre uma plataforma) para o V∴M∴.;
· Mesas simples e retangulares para os Oficiais (1° e 2° Vigilantes, Secretário e Tesoureiro);
· O Livro da Lei sobre o Altar (que é a própria a mesa do V.M.) permanece fechado;
· Na abertura da Loja, Compasso e Esquadro são armados pelo V∴M∴ de acordo com o Grau dos Trabalhos e colocados sobre o Livro da Lei;
· Ao lado e abaixo do Altar fica uma cadeira, a direita do V.M., para o G.M. ou seu Deputado;
· Ao lado e abaixo do Altar fica uma cadeira, a esquerda do V∴M∴. , para o V∴M∴ Adjunto (Ex-V∴M∴.mais moderno);
· Os Past Masters (Ex-Veneráveis Mestres, pois o Rito não usa a expressão M∴I∴) sentam-se no fundo do Oriente, de frente para o Ocidente.
· Os Aprendizes sentam-se na primeira fila da Coluna do Norte;
· Os Companheiros sentam-se na primeira fila da Coluna do Sul;
· Os Mestres sentam-se em qualquer das duas Colunas;
· Uma Sala de Preparação e uma Câmara Escura substituem a “Câmara de Reflexão”.
Algumas diferenças com o Rito Escocês Antigo e Aceito, pois o Rito Schröder NÃO utiliza:
· Cargos de: Chanceler; Mestre de Cerimônias (é o 1° Diác.); Hospitaleiro; 1° e 2° Expertos; Porta-Estandarte; Porta-Espada; Mestre de Banquetes e Arquiteto;
· Punhos para o V∴M∴ e Vigilantes;
· Pavimento Mosaico (com o mesmo simbolismo, tijoletas coloridas aparecem na borda do Tapete da Loja);
· Colunas Zodiacais;
· Abóbada Celeste (o céu está representado no centro do Tapete);
· Gradil entre Oriente e Ocidente;
· Altar de Juramentos (é a própria mesa do V∴M∴);
· Olho que Tudo Vê (substituído por um Triângulo com a letra G no centro, ou pelo Compasso e Esquadro também com a letra G em seu centro);
· Estrela Flamígera;
· Corda de 81 Nós;
· Espadas;
· Espada Flamejante;
· Prova dos Elementos (substituída pelas 3 Viagens);
· Painéis dos Graus (representados pelo Tapete);
· Mar de Bronze;
· Bolsa de Propostas e Informações (são entregues diretamente ao V∴M∴, antes do início da sessão);
· Giro hierárquico para o Tronco de Solidariedade;
· Turíbulo ou incensório, pois não há queima de incenso nas sessões.
Algumas diferenças com o Rito de York (Emulation Rite), pois o Rito Schröder NÃO utiliza:
· Cargos de: Diretor de Cerimônias; Capelão; Organista; Esmoler; Mordomo; Administrador da Caridade;
· Pavimento Mosaico (substituído pelo Tapete da Loja);
· A letra “G” suspensa no centro da Loja;
· Os Pedestais do V∴M∴ e dos Vigilantes;
· A Pedra Bruta (representada no Tapete);
· A Pedra Esquadrada (Idem);
· Altar de Juramentos (é a própria mesa do V∴M∴);
· Espada para o Guarda Externo;
· Painéis dos Graus (representados pelo Tapete);
· O andar “esquadrando” o Templo.
Conclusão: O Rito Schröder apresentou expressivo crescimento a partir de 1995, quando havia cerca de 14 Lojas no Brasil. Atribuímos este crescimento a divulgação, nos Seminários de 95 e 98 (RS) e 99 (CE) e, a Fundação do Colégio de Estudos do Rito Schröder de Florianópolis (SC) em 1997. Este, mantém contato com todas as Lojas Schröder do Brasil, buscando sintonia com os ideais de Schröder e com os Rituais da Loja ABSALOM N.º 1. Visa uniformidade ritualística e de pensamento, em um trabalho de cooperação entre Lojas das diversas Obediências. Estas iniciativas estimulam muitos Irmãos, alguns mesmo sem deixar suas “Lojas Escocesas” outros, transferindo-se para Lojas Schröder para fundar novas Oficinas. Por utilizar um Templo simples, com poucos paramentos e cargos, torna-se muito mais fácil “trabalhar” em uma Oficina Schröder. Tudo isso contribui para aumentar o número de Oficinas que adotam o Rito. Atento a este movimento, o G∴ O∴ B∴ criou em 1999 o cargo de Grande Secretário Geral de Orientação Ritualística- Adjunto para o Rito Schröder, não por acaso, ocupado por um dos integrantes do Colégio de Estudos.
Alguns aspectos principais chamam a atenção de todos os Irmãos que entram em contato com o Rito: a simplicidade da Liturgia, que em nada diminui sua beleza e profundidade; as palavras amáveis do V.M. ao iniciando e aos Irmãos; a valorização das qualidades morais do homem; o estímulo ao auto-conhecimento.
Pela objetividade, os trabalhos litúrgicos permitem excelente dinâmica. Uma sessão econômica raramente ultrapassa 1h30, tratando-se os assuntos administrativos (ata e expediente) e com apresentação de trabalhos ou instruções. Já uma Sessão Magna de Iniciação de três profanos, cumprindo-se individualmente toda a ritualística, demora cerca de 2h30.
Por estes motivos, já atingimos o expressivo número de 38 Lojas no Brasil, o que supera as 36 Oficinas da Alemanha e, temos certeza, continuaremos crescendo À Gloria do Grande Arquiteto do Universo.
Os Rituais foram traduzidos dos originais revisados pela Loja ABSALOM DAS TRÊS URTIGAS N.º 1 em 1960. Esta Oficina fundada em 1737, uma das mais antigas do mundo, é jurisdicionada a Grande Loja dos Maçons Antigos, Livres e Aceitos da Alemanha.
A ORIGEM E FONTES DO RITUAL SCHRÖDER
Na Grande Loja dos Maçons Antigos Livres e Aceitos (que é uma das mais importantes componentes da Potência Maçônica denominada Grandes Lojas Unidas da Alemanha) estão em uso dois rituais oficiais e o uso de mais dois é permitido. A maioria das Lojas trabalham no Rito Schröder na versão realizada em 1960.
A Grande Loja também publicou um ritual da Arte Real baseado na tradição Francesa, com ambos os vigilantes colocados no Oeste e com a Acácia figurando no grau de Mestre. As Lojas que pertenciam a hoje extinta Grande Loja Royal York, foram autorizadas a trabalhar com seus antigos rituais baseados no texto reformado por Fessler. Algumas Lojas da igualmente extinta Grande Loja “Zur Sonne” (traduzido: “Ao Sol”) continuam trabalhando pelos seus velhos rituais.
Como na Inglaterra, não há nenhuma diferença fundamental entre estes trabalhos, porquanto todos eles derivam de Prichard’s Masonry Dissected (Maçonaria Dissecada de Prichard) ou do Three Distinct Knocks (Três Batidas distintas) tendo sido introduzidos certos elementos de algumas exposições e ainda adicionados embelezamentos de origem Francesa.
A cerimonia “Passing the Chair” (Passando pela Cadeira) nunca foi introduzida e nem o “Real Arco” tem-lhe dado apoio. A Grande Loja Nacional dos Maçons da Alemanha (outra componente da Grandes Lojas Unidas da Alemanha) ainda trabalha pelo sistema Sueco, que consiste de 10 (dez) graus com um fundo pronunciadamente Cristão.
O Rito York Americano, trabalhado principalmente pelas Lojas Militares (Na Grandes Lojas Unidas da Alemanha existem ainda uma Grande Loja Américo-Canadense e uma Grande Loja dos Maçons Ingleses, cujos componentes em quase sua totalidade são membros das tropas militares estacionadas na Alemanha) introduziu na Alemanha os graus Crypticos e Templários. O Supremo Conselho do 33º para a Alemanha, trabalha pelo Rito Antigo e Aceito, usualmente conhecido como Rito Escocês, parecido com o Rito Escocês Retificado na França, que está se tornando popular de novo.
O que inspirou o Irmão Friedrich Ludwig Schröder em dar um novo Ritual a Maçonaria Germânica e como ele atacou esta tarefa que impôs a si mesmo? Estas são as questões que serão agora investigadas. Primeiramente algumas palavras sobre o homem, Schröder. Ele foi como seus pais, um ator produtor, que naquele tempo significava que ele era proprietário de teatro em Hamburgo. Ele conhecia na Europa as partes onde dominava a língua alemã muito bem, nunca esteve na Inglaterra, França ou Itália. Suas habilidades lingüisticas eram limitadas embora ele fosse capaz de adaptar peças de teatro dos originais Franceses e Ingleses. Sem conhecer Latim e Grego, ele adquiriu entretanto um grande cabedal de conhecimento pelo auto-estudo. Acima de tudo se destacava nele o seu caráter forte e sincero. O estado da Franco-Maçonaria na Alemanha no tempo em que ele foi iniciado com a idade de 29 anos, era caótico. Seu proponente foi Johann J. Christoph Bode, seu amigo, e sem escrutínio foi aceito na Loja “Emanuel”. O Rito Estrita Observância era dominante naquela época e o caráter da Franco-Maçonaria Inglesa, como originalmente introduzida em Hamburgo, se tinha perdido. As Lojas foram dominadas pelo misticismo, alquimia, Rosa-Cruzes e Iluminados, sendo que os últimos introduziram formas de cavalheirismo e “Altos Graus” importados da França.
Mesmo os sóbrios e democráticos Irmãos de Hamburgo não se abstiveram de desfilar como “Muito excelente Cavaleiro Templário”.
Não é de estranhar que um homem sério e despretensioso como Schröder, Estivesse radicalmente contrário a estas excentricidades; ele esperava da Maçonaria, educação e verdadeira moralidade. Com o declínio do Rito Estrita Observância, depois da Convenção de Wilhelmsbad em 1782, a hora de Schröder tinha chegado. Segundo seus desejos os Irmãos de Hamburgo decidiram:
l.º) Restaurar a verdadeira e antiga Maçonaria, como nos foi trazida pelos nossos antepassados e espalhada daqui por quase toda Alemanha, e que existiu em Hamburgo até a reforma de 1765. Esforçar-se zelosamente para elevar seus propósitos a um nível mais alto e fazer com que cada um dos seus ramos sejam mais úteis; isto deverá ser alcançado, com amor pela pesquisa da Verdade, seguindo com a máxima sinceridade os ensinamentos da sagrada religião Cristã e pondo fielmente em prática seus deveres.
2º) Melhorar a harmonia entre os Irmãos, procurando concentrar as quatro Lojas unidas em duas, sendo uma Loja Alemã e outra Francesa, e permitir a seus membros elegerem seus Mestres no Festival de São João.
3º) Trabalhar nos três graus da Arte Real de acordo com o Antigo Ritual Escocês dos nossos antepassados, até que os Rituais organizados na Convenção Geral nos sejam comunicados.
Para se ter uma idéia dos problemas que envolviam uma tal decisão, aqui estão alguns exemplos das dificuldades com o Ritual que existiu em Hamburgo e em outras partes. Estes eram tirados na sua maior parte da primeira edição do livro “Materialien zur Geschichte der Freimaurerei” (Matéria para a Historia da Franco-Maçonaria), um tratado composto do 1.400 páginas. Este trabalho é ainda uma mina de informações para o historiador principalmente por causa dos documentos mencionados e cujos originais agora não são mais acessíveis.
Schröder relata, por exemplo, sobre uma Loja da cidade de Dresden que se compunha de membros da alta aristocracia, mas, entre os oficiais da Loja havia um “cozinheiro-chefe” e um “Porta Caneco” e em 1743 bebidas eram servidas enquanto a Loja estava aberta. Em 1744 dois Diáconos foram nomeados pela primeira vez na Loja “Absalom” em Hamburgo, presumivelmente por causa das exposições que haviam aparecido na Inglaterra e na França.
Era naquela época ainda costume de pagar ao Secretário um salário especial pelos seus discursos, que apareciam depois impressos. O oficio de Orador veio para a Alemanha da França. Naquele tempo, o primeiro e o segundo grau não eram mais conferidos juntos em Hamburgo, por causa dos regulamentos que requeriam um período entre eles de nove meses.
O compromisso de Aprendiz incluía a seguinte exigência: “Que ele devia amar seus Irmãos e ainda promover seus melhores interesses por todos os modos”. Esta frase podia muito bem ter sido idealizada pela própria Loja; e se acha no Ritual até hoje.
A publicação da exposição “L’ Ordre des Franc Maçons Trahi” (1745), fez a Loja “Aos três Globos”, trabalhando num Ritual Francês, introduzir uma mudança que não foi entretanto mantida por muito tempo; a palavra “Tecton” e o sinal de “Harpocrates” (dedo indicador sobre os lábios) eram para ser usado como uma palavra e sinal adicional.
Havia uma completa incerteza acerca da colocação da venda nos olhos. O candidato geralmente era trazido para o interior da Loja com os seus olhos não vendados; o procedimento correto aprenderam de Londres somente em 1763. Além do mais, ninguém estava certo se as espadas eram para ser usadas dentro da Loja. (na França elas eram consideradas como um símbolo de igualdade) ou se “fogo” deveria ser dado nos banquetes. O processo de escrutínio também não era compreendido. Foi somente em l763 que a Grande Loja Provincial de Hamburgo decidiu que cada Irmão que colocasse uma bola preta na caixa do escrutínio, devia informar o Mestre dos motivos de assim ter procedido, no prazo de 3 (três) dias. Isto é habitual na Alemanha, até hoje se até 3 (três) bolas pretas aparecerem. Painéis da Loja desenhados em oleados somente apareceram no fim do século 18; em 1765 o Cobridor ou um Irmão servente ainda tinha de fazer o desenho com giz no chão. Um Diretor de Cerimônias foi pela primeira vez nomeado em 1774, embora na Alemanha e na França o seu titulo era de “Mestre de Cerimônias. Mais ou menos nesta época os Diáconos foram renomeados de “Stewards”.
É bem conhecido pelos balaústres de uma pequena Loja no Castelo Kniphausen na Frisia Oriental, que um soldado da guarda do Conde foi empregado como Cobridor e pago pelos membros da Loja. O trabalho desta Loja era baseado no de Prichard embora o Tapete (Painel) tenha sido copiado de um desenho do livro “L’ Ordre des Franc-Maçons Trahi1”. É também conhecido pelas muitas averiguações emanando de todas as partes da Alemanha, que as Lojas de Hamburgo e a Loja Provincial Inglesa, eram consideradas autoridades em todos os assuntos ritualísticos. Isto foi provavelmente a razão porque Schröder tinha seu Ritual impresso claramente sem abreviação ou código. Ele sabia que isto não estava de acordo com a pratica Inglesa. Ele também selecionou o tamanho ou formato “quarto” por ser mais prático para o Ritual e este está em uso ainda hoje. Ele achou que era preferível ter um Ritual organizado pelos principais Maçons do seu Tempo e aprovado pela Grande Loja Provincial de Hamburgo e que deveriam estar disponíveis para as Lojas, em vez de suas cerimônias serem baseadas em uma dúzia de exposições.
Schröder fez uma observação ao pé da página: isto se refere ao Ritual usado antes de 1765, isto é, antes da introdução da Estrita Observância. Entretanto como não havia então Ritual escrito, tornava-se impossível relembra-lo depois de 17 anos. De qualquer maneira aquele Ritual não seria apropriado para o fim atual. Os balaustres da Loja “Absalom” mostram que o Ritual inglês não era acuradamente conhecido mesmo antes de 1763. Em 14 de março de 1764, uma iniciação e elevação na mesma noite, – como era então praticado na Inglaterra – teve que ser adiada por causa da ausência do Irmão Bode, que era o único capaz de dar uma explanação do Painel da Loja. Esta era a situação, quando Schröder começou sua tarefa. É importante mencionar que o trabalho em certas Lojas, era ainda em língua Francesa.
Mas havia mais um obstáculo no caminho de um começo decidido e enérgico – O Grão-Mestre, von Exter. Embora ele ainda mantivesse uma nomeação Inglesa como Grão-Mestre Provincial para a Baixa Saxônia e Hamburgo, ele estava profundamente envolvido com a Ordem Rosa-Cruz e os graus cavalheirescos e também influenciado com idéias místicas. Desde a introdução do Rito da Estrita Observância em 1765.
A Grande Loja Provincial de Hamburgo há muito havia negligenciado suas obrigações para com a Grande Loja Mãe em Londres. Finalmente, o então Grande Secretario, Irmão Heseltine, em uma carta de 30 de maio de 1773 (UGL MS.26/B/B/1) pediu a devolução da Carta Constitutiva do Grão-Mestre Provincial. Não tendo recebido resposta dentro de poucos meses, o Irmão Heseltine enviou uma copia de sua primeira carta acrescentando que a Carta Constitutiva deveria se entregue ao Irmão Sudthausen que por acaso se achava em Hamburgo. A Grande Loja Provincial de Hamburgo reagiu com diversas cartas iradas, mas, mesmo assim não enviou relatórios, nem saldou as devidas contribuições.
Uma vez que Schröder tomou as rédeas em suas mãos esta situação mudou imediatamente. De agosto de 1786 em diante, a Grande Loja Provincial de Hamburgo enviou regularmente os balaústres de suas reuniões para Londres. A intervenção do Irmão, von Gräfe certamente tinha sido de grande ajuda nesta mudança. (UGL Ms.26/B/B/7-27). Ele tinha ditado o Ritual Inglês para o Grande Secretário Provincial, Irmão Beckmann. Em seu comentário, Schröder, faz a seguinte anotação:
….e assim temos agora um antigo Ritual comunicado para nós – exceto por algumas alterações introduzidas pelo tempo e o desejo de melhorar. De acordo com este texto, o 2ª Vigilante tem seu lugar no Sul; não havia nenhuma Estrela Flamígera e nem mais espadas dentro da Loja. O Diretor Regional, von Exter, pois ele ainda detinha este cargo na Estrita Observância, não trabalharia se as duas Colunas (Vigilantes) no Ocidente, sem a Estrela Flamígera, sem o monte de terra e o galho de Acácia, sem as alusões e promessas de uma Luz Superior e sem os vinte e mais itens muito preciosos para ele. Assim veio a Luz um Ritual até mesmo mais místico e mais pomposo do que esse da Estrita Observância.
Estas observações contém uma importante indicação. O texto Gräfe não era bem o mesmo, como o bem conhecido texto do Prichard que havia sido publicado em uma edição Alemã em 1736 e que foi largamente utilizado pelas Lojas Alemãs e na França pela versão Francesa. O Irmão N. B. Spencer já apontou isto no volume Ars Quatuor Coronatorum nº 74: “O aparecimento regular de traduções de uma ou de outras exposições bem conhecidas em Alemão ou Francês, encadernadas, com quase todas as cópias dos livros Alemães da Constituição do Século 18, sugere de uma maneira taxativa, que os Alemães estavam usando-os como guia para as suas cerimônias, assim como nos usamos um moderno Ritual ou Monitor”.
Schröder escreveu para seu amigo Meyer:
“Eu estou surpreso que você não achou nenhuma Loja em Londres na qual o 2º Vigilante senta-se no Sul ou a tal conhecida Loja dos Antigos. Durante este ano já tivemos quatro Irmãos de tais Lojas como visitantes.”
Na verdade os Vigilantes estavam colocados no Noroeste e Sudoeste respetivamente nos trabalhos da maior parte dos Rituais Continentais derivados de Prichard ou das versões Francesas baseado no “Masonry Dissected”. Quando Schröder tornou-se membro da comissão para elaborar uma nova Constituição, ele devotou-se a esta tarefa de maneira metódica e diligentemente e com uma considerável despesa pessoal. Assim ele imprimiu as suas próprias custas numa tipografia secreta em Rudolstadt, todos os Rituais disponíveis para ele, bem como uma historia da Maçonaria em quatro volumes e uma exata análise da Constituição Inglesa. Este empreendimento é algo fora do comum na historia da Franco-Maçonaria e, lançar-se um pouco de luz sobre isto somente poderá ser de proveito.
Schröder via a necessidade de abraçar a pesquisa maçônica dentro da obrigação de um segredo contido nos Rituais. Investigando entre os seus “Irmãos de confiança” verificou que a Loja Amália, em Weimar, (Goethe e Herder eram ambos membros dela) podia ajudar. Um dos seus membros era o Irmão Wesselhöft que morava em Jena e que tinha o seu negócio de Impressão e Publicações em Rudolstadt, cidades estas próximas a Weimar. O Irmão Wesselhöft fez o juramento, como também todos os membros de suas empresa, para manter o sigilo; sendo que alguns deles foram simplesmente convidados a se unirem a Loja de Rudolstadt. O Irmão Conta, que era alto oficial da Policia Alemã, foi nomeado para exercer a função de supervisor e censor. As detalhadas instruções anotadas pelo Mestre da Loja, provas que Schröder forneceu o necessário material e capital de trabalho, ainda existem. Este estabelecimento começou a trabalhar na ultima década do século 18 e parece ter encerrado suas atividades depois da morte de Schröder. Uma de suas publicações foi a coleção de Rituais em 21 volumes, dos quais, a única cópia conhecida nos dias atuais, encontra-se na Biblioteca da Grande Loja Nacional da Dinamarca. Este trabalho, cerca de trinta Rituais dos então conhecidos e dos “Altos Graus”, incluindo um texto do ‘Three Distinct Knocks” e que é sem duvida considerado como o “mais velho e genuíno Ritual Inglês”, sem entretanto mencionar sua origem. O texto de Prichard é identificado, e a razão para o anonimato sobre “Three Distinct Knocks” pode se achar na correspondência de Schröder com Meyer onde escreve:
Pelo amor de Deus, “Three Distinct Knocks (Jachim e Boaz é só uma reimpressão da anterior) não deve se tornar conhecida porque o nosso ritual está baseado nele. Portanto eu removi estes dois livros do catálogo de nossa biblioteca. È muito raro na Alemanha e provavelmente na Inglaterra também.
Mas seu amigo sabia melhor; “Jachim e Boaz” é sempre reimpresso sem alteração, ele tinha uma edição de 1800. No prefacio da edição de 1815 do seu livro “Materialien zur Geschichte der Freimaurerei” (Materiais para a Historia da Franco-Maçonaria), Schröder aponta que “Three Distinct Knocks” é o ritual que é trabalhado até hoje em dia por todas as velhas Lojas Inglesas na Grã Bretanha, Ásia, África e América. Acerca de Prichard ele diz que este foi o primeiro desvio do mais velho, isto é do “Three Distinct Knocks” mas que tinha sido usado pela maioria das Lojas Alemãs. Os Rituais Franceses a maior parte deles baseados em Prichard, foram as fontes dos Rituais de Zinnendorf e Sueco, cujos sistemas haviam aceitado os “Altos Graus” da França, também eram conhecidos por Schröder. Os “Altos Graus” reproduzidos nesta coleção, não são de nenhum interesse aqui, mas deve-se dizer que o trabalho total é até hoje uma rara fonte de pesquisa ritualística. Como este trabalho foi destinado somente aos membros do “Circulo Interno”, a edição não podia consistir de mais de cem cópias e por isto é que se trata de uma Obra rara e que não foi totalmente registrada por Taute e Wolfstieg que produziram uma Bibliografia Maçônica. Assim há muita razão em ser grato a Grande Loja Nacional da Dinamarca por ter liberado sua cópia para fazer-se uma reprodução fotográfica em 1976, que foi limitada a uma edição de trezentas cópias e não está disponível comercialmente. Com isto chegamos a uma certa conclusão: quando o trabalho começou em Hamburgo em 1790 para um novo Ritual, a Grande Loja Provincial subordinada a Primeira Grande Loja da Inglaterra, não possuía em Ritual escrito em Inglês com um texto autêntico. Schröder estava absolutamente convencido de que “Three Distinct Knocks” não era apenas genuíno, mas era efetivamente o mais velho Ritual existente. Como podemos ver, ele baseou todo o seu trabalho sobre este texto, tanto quanto diz respeito a estrutura ritualística. Nas instruções do Grau de Aprendiz datado de 1801 Schröder diz:
Não pretendemos absolutamente proteger todas as partes do velho catecismo. Embora estejamos inclinados a preferi-lo – no todo – a qualquer coisa nova, entretanto reconhecemos que foi dito uma Fraternidade Inglesa, que consistia principalmente de artesões, não pode ser inteiramente adequado para maçons educados de outro país. Portanto corrigimos ou omitimos o que está fora do espírito ou circunstâncias do nosso tempo.
Ele sentia profundamente que princípios éticos e morais eram a essência da Maçonaria e ele os formulava com grande cuidado e em colaboração com os mais educados Maçons do seu tempo. Isto dá ao seu Ritual um caráter particular próprio, expressando as tendências espirituais da Alemanha por volta do século 18. A tendência para a Maçonaria Cavalheiresca ou Templária, com um forte conteúdo Cristão e até mesmo Católico Romano, tinha desaparecido. Fortaleceu-se a tendência de que, moral elevada e princípios éticos, deveriam ser as essenciais caraterísticas da Arte Real.
Schröder, bem conhecido e respeitado como era, tanto profissionalmente como Diretor de um teatro de alta reputação e, também como Maçom, estava em contato com Irmãos proeminentes e os familiarizava com os seus planos. Sua correspondência com seus “Muitos confiantes Irmãos” por todo o norte da Alemanha. era parcialmente escrita em um código que foi tirado da Estrita Observância e usado com sua própria frase chave, a qual foi descoberta recentemente. Os princípios básicos seguidos pelos dois reformadores da Arte Real na Alemanha, por uma iniciativa paralela, foram lançados por Fessler em Berlim e sua linha de ação será mencionada mais tarde – pode melhor ser compreendida estudando-se a introdução do “COMPACT” da Grande Associação Maçônica de 1801 entre a Grande Loja Provincial de Hamburgo e a Grande Loja Royal York de Berlim a qual Fessler pertencia. Embora este texto tenha sido traçado por Fessler e não por Schröder, o conteúdo reflete fielmente as idéias do último:
1º) Franco-Maçonaria e fraternidade maçônica, são dois conceitos bem diferentes, como as palavras “ciência e escola”, “religião e igreja”. Isto nos leva para:
2º) Franco-Maçonaria, independente de tempo e condições locais, (ouvimos a voz de Lessing) sempre una e a mesma, é sempre aquilo que envolve e coloca firmemente o homem interno entre o esquadro e o compasso, seu modo de pensar e agir e que fixa a posição moral do homem na Sociedade, embora a Franco-Maçonaria possa ocasionalmente ter-se desenvolvido em direções diferentes.
3º) As Grandes Lojas Provinciais Unidas não reconhecem na Fraternidade Maçônica o tal chamado propósito ou desígnio secreto que se diz possuir e além dos três graus de São João. Para elas o objetivo da Fraternidade Maçônica é o mesmo: prática, manutenção e crescimento comum da Arte; tudo isto visto pela luz de sua pura tendência moral. Isto os mais esclarecido Irmãos tem em todos os tempos reconhecido.
4º) Como não mais se pode deixar aos caprichos de Maçons isolados ou Lojas em particular, a decisão e definição da natureza e tendência da Maçonaria, as Grandes Lojas Provinciais Unidas estão convencidas de que o mais velho Ritual Inglês dos três graus é o único em que podemos confiar como fonte histórica e para compreensão da natureza e evolução da Franco-Maçonaria.
A razão da curta vivência da Grande Associação Maçônica pode se achar na conturbada situação política existente naqueles dias na Alemanha, entretanto estes princípios ainda são válidos hoje em dia para a Maçonaria Antiga Livre e Aceita na Alemanha.
Pode nesta conjuntura ser de interesse mencionar uma opinião não favorável a Schröder; é a de um Pastor Protestante ortodoxo e ex-membro da Loja de Leipzig. De acordo com Taute este ex-Irmão, Professor Lindner deixou a Loja por causa de sua ambição não satisfeita e publicou um trabalho no qual apresentava Maçonaria e Religião num falso relacionamento ainda que um pouco melhor do que fez o Reverendo Walton Hannah em nosso dias. Assim o Professor e ex-Irmão Lindner escreve:
Eu tenho … impressão que o melhor do “Iluminati” foi aceito em sua (de Schröder) forma de Maçonaria, mas é ainda necessário mostrar-se que a forma de Schröder não se enquadra na dominante cultura do tempo atual, embora seja mais profunda que outras. Ele nos mostra uma espécie de ecletismo enfeitado com alguma filosofia de Kant, mas não há realmente nada de original ou genuíno. Sua secretividade sobre assuntos publicamente conhecidos é bem desorientadora. Tudo isto se pode chamar uma filosofia de rigorismo moral, tendo nela disseminado algumas demonstrações de caridade.
Mais tarde, Lindner arrependido retratou-se. A insinuação sobre “Iluminati” se refere ao “Circulo Interno” de Schröder que era para ser, não uma outra “Ordem”, mas somente uma Loja de Instrução Histórica.
Antes de iniciar a elaboração de novos Rituais a Franco-Maçonaria em Hamburgo tinha que se organizar e isto não poderia se realizar sem surgirem animosidades pessoais. Só em 1790 tornou-se possível nomear uma pequena comissão sobre a presidência de Schröder e composta de representantes de todas as Lojas. Antes de tudo ele viajou para consultar seus amigos nas Lojas sobre a jurisdição de Hamburgo, que haviam se espalhado além de Hamburgo e até na Alta Saxônia. Seu interesse particular era para consultar com o Irmão Bode, que tinha se mudado de Hamburgo para Weimar de forma a estabelecer contato mais freqüente com o Irmão Herder, um alto Clérigo no Ducado de Weimar. Isto tornou-se somente possível porque Schröder tinha abandonado a direção do seu teatro em Hamburgo e agora estava vivendo como fazendeiro em sua propriedade em Rellingen perto de Hamburgo. Os próximos anos de sua vida foram dedicados integralmente ao trabalho da reforma que deixou uma forte marca na Arte Maçônica da Alemanha até hoje.
Uma importante contribuição para o trabalho de Schröder, veio de seu amigo de longos anos, Professor Friedrich Ludwig Wilhelm Meyer (1759-1840). Ele era um gentil-homem de vida independente tendo muito viajado por toda Europa e Inglaterra. Na Universidade de Göttingen ele foi tutor dos Duques de Sussex, Cumberland e Cambridge. Existem evidências de que seus talentos e habilidades lingüísticas foram usados muitas vezes pelo Rei da Prússia e seus ministros, que o empregaram como agente político secreto. Meyer era Franco-Maçom e foi membro da Loja “Pilgrim” em Londres de 1789 a 1791. Felizmente pode ser consultada sua enorme correspondência, particularmente essa com Schröder. Quando ele não estava viajando vivia numa pequena cidade na então parte dinamarquesa de Holsatia e só recentemente cerca de 700 cartas foram descobertas nos arquivos do Estado de Hamburgo. Destas, agora sabemos que Meyer traduziu a maior parte dos textos Ingleses e Franceses que seu amigo Schröder usou. Schröder aceitava os argumentos e sugestões de Meyer de bom grado.
Levaria muito tempo para examinar mais de perto o relacionamento entre Schröder e o Irmão Ignaz Aurelius Fessler (1756-1839). Fessler nascera na Hungria. Educado pelos Dominicanos ele tornou-se professor de Historia e Línguas antigas, o que lhe deu grande reputação. Em seguida a uma crise pessoal e espiritual na meia idade, tornou-se Franco-Maçom, converteu-se ao protestantismo e morreu velho como Chefe da Igreja Protestante Russa. Durante sua estada em Berlim, empreendeu a Reforma dos Rituais da Grande Loja Royal York de forma a restabelecer a pura Arte Maçônica ou pelo menos separa-la dos “Altos Graus”. Neste contexto deve ser lembrado que os sistemas então existentes eram baseados nos sistemas hierárquicos; as Lojas eram totalmente subservientes a um corpo mais alto e não tinham autonomia, nem ao menos para a eleição de seus oficiais. Fessler estava muito bem informado sobre os diferentes sistemas, porquanto ele tinha, ao contrario de Schröder, sido admitido a maior parte dos “Altos Graus”. Numa carta a um amigo ele declara que possuía uma tradução do “Three Distinct Knocks” que ele pensava que era o Ritual de velha Loja Inglesa em York; esta confusão entre os Antigos e a efêmera Grande Loja de York é freqüentemente encontrada na Literatura Maçônica Alemã do período de Fessler. Entretanto, ele não usou este texto para os seus Rituais reformados, mas baseou seu trabalho parcialmente sobre o tal chamado “Ritual de Praga”, verificando que sua origem vinha dos textos Franceses baseados em Prichard. Como este Ritual desempenhou um importante papel na reforma da Arte Maçônica Alemã, vale a pena considera-lo rapidamente. Seus integrantes eram membros de uma Loja de Praga chamada “Zur Wahrheit und Einigkeit zu den drei gekrönten Säulen” (A Verdade e União das três Colunas coroadas) fundada ao redor de 1784 da fusão de duas Lojas mais antigas como o nome indica. Em 1794, a Loja publicou um Livro contendo a Constituição e os Rituais da Arte um volume de mais de 400 páginas que não faz referencia a Constituição Inglesa, mas a concepção dela, da própria Loja. De início é afirmado que a Loja é uma “Republica Democrática”. A conexão com eventos na França é óbvio (1794), mas é surpreendente que este livro foi impresso na Áustria Imperial e não na França. O Ritual introduzido em 1788 está baseado no sistema Zinnendorf (Sueco), mas com mudanças nas explanações morais dos símbolos numa linguagem mais concisa. Não era para haver nenhuma influência, ou seja lá o que for, dos tais chamados “Altos Graus” nas Lojas da Arte e o “Iluminati” é apontado como sendo totalmente uma organização Antí-Maçônica. “De tempo imemorial” é dito que os “não Cristãos” não poderiam ser admitidos, mas uma interessante exceção foi feita no caso de membros da “Seita Sociniana” que foram exilados da Polônia. Esta seita era definitivamente Cristã, mas seguia a doutrina Unitária. Um interessante fato no Ritual é que a velha obrigação não era mais mencionada. Outro texto que Fessler usou foi o chamado “Ritual Essinger”. Não foi possível achar uma cópia do mesmo, mas da correspondência Schröder/Meyer e das publicações de Fessler sabemos que um medico chamado Gasser, havia trazido o texto da Inglaterra mais ou menos no ano de 1788. Na verdade este Ritual era uma copia do “Three Distinct Knocks” que passou nas mãos de Fessler, havia sido publicado na Saxônia em 1804. Foi usado na Loja que o Barão Dalberg fundou em sua residência de verão em Essinger perto de Mannheim onde ele era Diretor de um, então, famoso Teatro. Seu irmão mais velho foi o ultimo Eleitor e Arcebispo de Mongúncia e Grande Chanceler do Santo Império Romano, enquanto seu irmão mais novo era um conhecido músico e compositor. Todos os três eram franco-maçons e personalidades de destaque de sua época. Fessler pretendeu que este Ritual era pelo menos o mais velho, porquanto já havia sido usado antes de 1717 na Loja de York. Isto aumentou a ira de Schröder e numa carta a Meyer ele escreve:
Não deveria ele (Fessler) e seu tão meticuloso amigo Mossdorf, saber que o lugar Essinger não existe? Somente uma coisa em todo o livro me chamou atenção – The Old Charges da Constituição de York. Seu estilo e conteúdo são obviamente mais novos que o texto de Anderson, que por si é mais novo que aquele publicado por Preston na sua “Ilustrations”.
Isto é de grande interesse porque demonstra a extrema confusão causada pela publicação do Irmão Dr. Krause (como hoje sabemos) do texto complemente apócrifo da Constituição de York de 926.
Havia ainda um outro eminente Franco-Maçom com quem Schröder mantinha contato e cujos conselhos freqüentemente seguia. Este era Johann Gottfried Herder (l744-1803) cujas correspondências com Schröder dos anos de 1799 a 1802 estão parcialmente acessíveis em uma publicação do Irmão Wiebe de Hamburgo e em um certo numero de cartas não publicadas existentes nos arquivos do Estado da Prússia em Berlim. Quando o exercito Francês ocupou Hamburgo no ano de 1808, Schröder infelizmente destruiu a maior parte de seus papeis. Sabe-se, por intermedio de outras fontes, que a primeira versão do Ritual de Schröder introduzido em 1801, continha um certo número de canções escritas ou pelo menos trabalhadas por Herder. A maior parte delas não foram incluídas na versão de 1816, pois que a prática de cantar em Loja havia se tornado menos popular. Os textos disponíveis de hoje são em prosa somente, mas eles tem o espirito do gênio de Herder.
Schröder e Fessler trocaram cópias de seus Rituais, porém o último comentou, que os Irmãos de Berlim acostumados ao Ritual Francês não apreciariam a simplicidade do texto de Schröder. Ambas as versões foram enviadas por Schröder aos seus outros amigos e conselheiros e os mesmos preferiram o seu (de Schröder). Depois de certas pequenas modificações, Schröder submeteu seu texto aos Mestres de Hamburgo em 29 de junho de 1801 que o adotaram por unanimidade. Depois de mais uma revisão de certas passagens, que não tinham concordância com a cerimonia, foi impressa uma edição limitada para as Lojas de Hamburgo e uma edição, maior foi editada em 1816 para todas as Lojas Alemãs. Desta edição existe somente uma cópia pertencente a uma Loja na cidade de Celle, cujo exemplar felizmente tem sido possível estudar. Este texto não contém nada de místico ou oculto, mas retém a simplicidade do original Inglês. Incluído o pensamento alemão da época expressa um texto de alto fervor moral aliado a um generoso espírito de princípios Humanitários.
Voltando as atividades de Schröder, estas podemos descrever utilizando suas próprias palavras. Em 1792 ele escreve:
Com permissão dos Veneráveis Mestres, Schuch e Schütte e consultando o Irmão Beckmann, eu purguei as escórias do Ritual e nós gradualmente introduzimos estes melhoramentos. Somente o Venerável Mestre Poppe, da Loja “Absalom”, permaneceu com a velha versão, a mística alusão e promessas da grande Luz. Era irritante que este cérebro acanhado continuasse falando de preservar a Constituição Inglesa, que ele não conhecia e a cuja introdução ele tanto resistiu. … Embora o nosso Ritual revisado, ainda não bem representando plenamente o texto mais velho, pois nossas mãos ainda estavam amarradas, se comparou favoravelmente com todos os outros textos conforme nos afiançaram Irmãos visitantes freqüentemente.
Do que esta acima escrito, podemos concluir de que o texto revisado do Rito da Estrita Observância – que era ainda o oficial – estava agora em concordância com a usança Inglesa.
A linha de ação de Schröder estava encerrada consigo mesmo. Mas, ele tinha de conseguir a aprovação, primeiro da Comissão de Elaboração e depois das Lojas da Jurisdição de Hamburgo. Isto não foi obtido sem dificuldade. O Irmão Sieveking, um cidadão respeitável e Venerável da Loja “São Jorge” declarou em seu discurso inaugural em 1789, que as usanças, símbolos e obrigações eram uma farsa e que nenhuma pessoa sensata deveria dar qualquer valor a elas. Ele somente seria Venerável da Loja, se tudo isso fosse mudado e o Ritual como conhecemos fosse abandonado. Schröder ficou muito chocado com essa atitude e quatro semanas após, num discurso enérgico aos Irmãos de Hamburgo disse:
Acabar com os símbolos significa acabar com a Maçonaria. … É legal tirar conclusões adversas dos abusos, contra o todo? Aquele que olha para os hieróglifos como uma farsa, tem primeiro que nos convencer, em termos não incertos. Meus Irmãos, considerem antes de tudo, as primeiras lições tiradas das vidas virtuosas de homens sábios, de estabilidade, de prudência e de sigilo e que nos foram ensinados no primeiro grau. Pensem nestes grandes preceitos e nos subsequentes modelos! Tudo isto é baseado na farsa? Mesmos se os velhos costumes não tem mais valor que as práticas das Guildas dos Maçons trabalhadores da Pedra, mesmo se a interpretação delas é inteiramente inútil …. é o bastante, elas são a base material da qual a grande corrente da Fraternidade foi formada e enquanto não permitirmos mudanças maiores, enquanto permanecermos com o sistema Inglês, por todo este tempo, nossas reuniões estarão absolutamente livres da intromissão do misticismo, Iluminati e de outros sonhadores.
Não antes de 1791 foi possível se livrar dos Corpos governantes dos “Altos Graus”, introduzidos pelo Rito da Estrita Observância, e do qual os Irmãos estavam ficando cada vez mais cansados. Seu dirigente era o Irmão, von Exter, que ao mesmo tempo era Grão-Mestre Provincial sob a Constituição Inglesa. Havia também problemas financeiros para serem resolvidos porquanto estes Corpos eram responsáveis pela administração das Lojas da Arte. Ao final, aos “Old Scots”, aos “velhos Escoceses”, como eles se intitulavam, foi pago uma certa soma em dinheiro tirado do Fundo Geral.
Desde o começo, Schröder, não se tinha restringido a organizar um novo Ritual, somente para Hamburgo; ele sempre teve em mente que o mesmo servisse todas as Lojas de língua Alemã. Algo como um vácuo havia surgido com o colapso do Rito da Estrita Observância e nesta oportunidade o sistema Sueco do Irmão Zinnendorf, tentou se introduzir. Nesse tempo houve somente uma outra Grande Loja Provincial sob a Constituição Ing1esa, era em Frankfurt, trabalhando do mesmo modo que Schröder; Os Graus simbólicos tinham que concordar com a usança inglesa, mas cada Loja estava livre para trabalhar qualquer dos “Altos Graus” e isto levou naturalmente, exatamente para aquelas dificuldades que Schröder conseguiu evitar em Hamburgo. Tem que se salientar que ele de modo nenhum desejou criar um novo sistema próprio. Assim ele se manifestou em uma carta a Meyer:
Assim como a Franco-Maçonaria se espalhou da Grande Loja de Londres e como nenhuma Grande Loja pode existir na Alemanha, com a presente situação política, a coisa certa é de se permanecer sob os auspícios da Grande Loja de Londres, se é para sermos legalmente reconhecidos em toda parte. Até mesmo as Grandes Lojas França, Holanda e Suécia, concordaram em não constituírem Lojas fora de suas fronteiras políticas, de forma a serem reconhecidas por Londres.
A resposta de Meyer foi a seguinte:
É verdade que eu firmemente acredito que uma Loja de acordo com a antiga usança maçônica não precise de uma Constituição para sua legal existência. Como as coisas estão, entretanto, eu concordo com você de que é aconselhável ter uma Carta Constitutiva de uma fonte de Franco-Maçonaria mais nova, e eu estou convencido que – se tal coisa for negligenciada – estaríamos abertos para toda a sorte de tapeações e farsas.
Agora deixemos Schröder com suas viagens, durante as quais ele apresentou seu novo Ritual com sucesso em muitas Lojas sob a Constituição de Hamburgo, ou na sua casa de campo estudando o material que ele tinha colecionado. Em seguida examinaremos as fontes de onde ele tirou o material.
A primeira Grande Loja da Inglaterra nunca tinha publicado um Ritual autorizado, pois era um dos princípios básicos que os trabalhos das cerimonias devem ser apresentados de cor. O rápido crescimento da Maçonaria, no Continente Europeu de 1730 em diante, propiciou inevitavelmente a publicação das tais chamadas “exposições” que alegavam ser textos “autênticos” das cerimonias. Como muitos trabalhos foram publicados sobre este assunto, é desnecessário tratarmos desta matéria. Qual foi o problema que Schröder teve que superar, não tendo a possibilidade de trabalhar com um genuíno e autentico texto?
Uma pergunta imediatamente surge: Porque ele mesmo não foi a Londres? Como homem de trinta ou mais anos de experiência teatral, não deveria haver nenhum problema para ele memorizar todos os textos de que necessitasse. Ele se apresentaria aos “Modernos” de onde Hamburgo tinha uma Carta Constitutiva. Mas é bem possível que ele poderia ter caído nas mãos de Preston ou Dermott. Sabemos que ele havia planejado uma viagem a Londres levando consigo o amigo Meyer, porque ele falava apenas pouco inglês, mas tudo acabou em nada. Uma outra pergunta é: porque ele não pediu a para outro Irmão, que iria a Londres a negócios, para obter as informações que ele necessitava? Porque ele também não pediu a um dos Irmãos Ingleses que eram visitantes? Não há resposta, mas é conhecido que ele possuía todas as exposições existentes, tanto Inglesas como Francesas, que ele estava intrigado pelas publicações de Preston e que ele estava ciente da existência de duas Grandes Lojas rivais. Entretanto, ele não sabia, como a maior parte do povo do seu tempo, a real origem dos “Antigos” e ele parece ter acreditado que eles usavam um sistema de trabalho mais antigo que aquele dos “Modernos”.
Deve ter sido desconcertante para Schröder, achando seu caminho através dos textos a sua disposição, notar a posição dos Vigilantes, a inversão das Colunas “J” e “B” e, entre muitas outras diferenças entre “Prichard” e “Three Distinct Knocks”. É interessante notar que depois da União na Inglaterra, nenhuma mudança foi feita no Ritual de Schröder. Quando seu sucessor como Grão-Mestre Provincial comunicou a Londres a notícia da morte de Schröder, numa carta datada de 08 de outubro 1816, ele fez um certo destaque dizendo:
Ele considerou o livro Inglês da Constituição e o velho Ritual Inglês, como as únicas fontes do fim e da essência da Maçonaria. Ele informou as Lojas sob a nossa jurisdição e muitas outras sobre isto e em 1801, ele as induziu a adotarem o velho Ritual. Este texto entretanto foi modificado de forma a reduzir tanto quanto possível as discrepâncias com aqueles de outras Lojas. Nós, portanto, mantivemos as palavras da Maçonaria mais moderna, por serem de usança comum no Continente e mais alguns detalhes. Hoje, trinta Lojas na Alemanha, e seis na Rússia, trabalham com este Ritual, preferindo o velho Ritual a todos os outros. Schröder muito se lastimou, que as palavras que haviam sido mudadas no seu Ritual de forma a concordar com a usança Continental, foram agora restauradas para a velha forma na Inglaterra, conduzindo à situação desafortunada, que outras palavras, a maior parte desconhecidas no Continente, estão agora sendo usadas na Inglaterra.
Incidentalmente, o comentário de Schröder sobre uma publicação do Irmão Bode, que era um membro de destaque da Estrita Observância, bem ilustra a confusão reinante nas mentes dos franco-maçons Alemães. O Ir. Bode estava convencido que os Rituais Ingleses foram inventados pelo Clero Católico Romano bem como da oposição das Colunas “J” e “B”. Schröder escreve:
Bem, se em todas as velhas Lojas Inglesas, mesmo naquelas trabalhando como na versão de Prichard, o Aprendiz recebe o seu salário na coluna “J” e o Companheiro na “B”, porque Bode não interpreta “J” e “B” como “Ignatius Benedictus” que estaria mais de acordo com sua teoria?
Neste contexto, um breve comentário sobre este problema particular pode ser útil. No tempo de Schröder, depois da dissolução da Sociedade de Jesus em 1773, uma reação muito forte contra este Corpo Religioso tinha se espalhado por todo o Continente Europeu e não somente pelos Países Protestantes. Seus membros foram acusados de tentarem se infiltrar na Franco-Maçonaria, principalmente com o graus Cavalheirescos e Templários. Schröder e muitos de seus amigos foram influenciados por esta reação e muitos panfletos foram editados atacando ex-membros da Sociedade com grande violência. Muitos eminentes contemporâneos como Lessing, Barão Knigge, Biester e Nicolai na Alemanha, De Bonneville, Ragon e Rebold na França e Capitão Smith na Inglaterra, tomaram parte nesta campanha anti-Jesuítica. Um dos principais argumentos foi, que a Franco-Maçonaria havia sido organizada na Inglaterra pelos Jesuítas, como um movimento anti-Protestante da Igreja Católica Romana. De Bonnevilie, por exemplo, acreditou que a exposição de Prichard era de origem Jesuítica, assim como também o Irmão Bode, conforme explicou num longo memorando ao Duque de Brunswick, Soberano do Rito da Estrita Observância. Ele, tentou provar que cada simples elemento ritualístico continha uma alusão a Roma, a Becket ou aos Jacobitas. Suas referencias eram dos Rituais baseados em Prichard. Quando Schröder chamou sua atenção ao “Three Distinct Knocks”, Bode respondeu:
Eu mesmo tenho “Three Distinct Knocks” mas não o acho muita coisa. Acredite na minha palavra, na realidade os rufiões são nem mais nem menos que os Reformadores do século 16 e que H. A. não é mais que a hierarquia Romana.
Schröder, como um homem equilibrado, não seguia seus amigos até este ponto; ele lembrou a Bode que nas antigas Lojas não havia Altar, mas apenas uma simples mesa para colocar o Livro da S.L. De qualquer maneira Schröder decidiu usar o “Three Distinct Knocks” como material básico do seu trabalho. Ele tinha um grande numero de Rituais e Catecismos impressos de origem Inglesa, Francesa e Alemã a sua disposição, pois todas as Lojas Continentais trabalhavam com o texto impresso e ainda hoje assim o fazem. Teria sido interessante se tivesse sido possível apresentar o texto do “Three Distinct Knocks” junto com o texto final de Schröder de 1816 na forma de um resumo. De qualquer modo, como este texto representa, com algumas adaptações de linguagem, o Ritual usado hoje pela maioria das Lojas de língua Alemã, incluindo a Loja “Pilgrim” de Londres, seria impróprio assim fazer. O Irmão Milborne em seu importante trabalho apresentado no Livro “Ars Quatuor Coronatorum” nº 78, publicou um resumo, mas, ambos seus documentos básicos eram exposições, enquanto neste caso, uma exposição havia sido transformado em um autentico Ritual. Contudo esta bem claro nos comentários feitos por Schröder, que ele tinha idéias próprias e uma concepção clara do que ele deveria inserir na estrutura do “Three Distinct Knocks”, e portanto, estes comentários serão dentro do possível dados em extenso. Aqueles que gostariam de fazer um estudo mais minucioso devem ter como referencia uma cópia do Ritual de Schröder do ano de 1816. As idéias de Schröder se tornam obvias pela leitura atenta do seu próprio texto. As citações são da edição de 1815 do seu “Materialien zur Geschichte der Freimaurerei (Matéria para a Historia da Franco-Maçonaria), e que daremos a baixo:
Eu espero que o Ritual completo explanará melhor minha própria opinião, do que os fragmentos dos primeiros parágrafos. Não deve ser esquecido que eu de modo algum, considero que este ritual (“Three Distinct Knocks”) seja o original. Talvez se tenha desenvolvido gradualmente a uma certa perfeição, pois deve ter sofrido mudanças, pelo menos quando a Igreja Protestante tornou-se dominante. As Lojas Unidas (isto é, aquelas de Hamburgo e Berlim) já conhecem este Ritual de uma coleção de textos, mas as observações neles servem somente para mostrar a diferença entre a velha e a nova Franco-Maçonaria e eu não podia levantar todo o véu. Portanto, eu agora apresento para os meus leitores uma tradução consciente, para que se faça um exame conveniente. O pequeno livro abriu os meus olhos e faz as minhas afirmações altamente prováveis é chamado: “Three Distinct Knocks at the Door of the most Ancient Freemasonry” (As Três Batidas Diferentes na Porta da mais Antiga Franco-Maçonaria”.
Damos abaixo o prefacio do “Three Distinct Knocks” que é importante porque conclui assim no fim:
Depois eu fui convidado para ir a uma Loja Irlandesa que se denominavam os mais antigos Maçons e que mantém sua Grande Loja na Taverna dos Cinco Sinos no Strand e que é todo o assunto deste livro, e não o outro, porque já há um livro publicado chamado “Masonry Dissected (Maçonaria Dissecada) que foi publicado no ano de 1700 (sic) e eu acredito que era toda Maçonaria que se fazia usar naquele tempo; mas não é nem a metade do que é usado agora, embora seja o melhor que já foi escrito sobre o assunto antes disso.
O comentário de Schröder foi: do precedente, segue sem nenhuma sombra de dúvida que esta Loja, constituída pela Grande Loja de Londres, trabalhava com ura Ritual que simplesmente correspondia com a “Maçonaria Dissecada” de Prichard. Ele também corrige a data da publicação que não foi 1700 e sim 1730. Schröder agora faz algumas observações preliminares sobre o texto de “Three Distinct Knocks” que está parcialmente em linha com o original, mas também contém algumas adições, que são reconhecíveis como a que segue: ele dá a Coluna “B” para o 1º Vigilante e a “J” para o 2º Vigilante. Numa nota claramente reconhecida, como sua própria, ele assegura que nenhum alvião (maço) originalmente tinha sido usado, mas que o Venerável e seus Vigilantes usavam um Bastão de sete pés (2,10 m) para abrir e fechar a Loja. Ele acrescenta que aparentemente nada era desenhado no retângulo no centro da Loja. Segue uma tradução de palavra por palavra por Schröder, comparando-o com “J e B” e com Prichard. Isto e também válido para o Catecismo dos Aprendizes que se segue depois. Pode-se notar que em alguns trechos a tradução que ele usou continha incorreções ou que o conhecimento da língua Inglesa de Schröder não era muito grande. Por exemplo, ele parece acreditar que durante a Iniciação, os Irmãos sentavam em volta de uma mesa com uma Poncheira e copos no centro. É difícil imaginar como com tal arranjo, o Mestre ia do Oriente para o Ocidente onde se supunha que era onde o Candidato se ajoelhava. A posição das mãos durante a obrigação do primeiro Grau, como observado na Constituição Escocesa e outras, nunca foi costume no Continente Europeu e Schröder presta especial atenção a esta parte da cerimônia. Lamentando que mais nenhuma explicação é dada, ele sente que esta posição força o candidato, quando lhe e restaurada a Luz, antes de tudo, ver as Três Grandes Luzes ante seus olhos. Quanto a velha obrigação, ele concorda com a sugestão de Herder, que esta não deve ser lida para o candidato, mas deve ser incluída no Catecismo ou comunicada numa Loja de Instrução. Como o Diretor de Cerimonias não é mencionado nas exposições, ele não inclui este Oficial no seu Ritual; suas funções foram distribuídas aos Diáconos. Na verdade, a maioria das Lojas Alemãs hoje em dia tem um Diretor de Cerimonias, embora seja ele conhecido como Mestre de Cerimonias. Os comentários de Schröder sobre o método de dar o Sinal, Toque e Palavra são interessantes:
Antes dele dizer alguma coisa, ele tinha de ser instruído. Parece que ele tinha estado ajoelhado até então. Diversas razões me levam a duvidar, que nesse original arranjo, nenhuma palavra foi dita sobre o Templo Salomônico. Como é que neste Ritual e no Catecismo de Prichard, “B” vem antes de “J”? “B” era sênior e “J” júnior e na Bíblia também a ordem é “J” e “B”. Dr. Kause corretamente diz que deve ser “J” porque “ele será elevado”. Pose-se suspeitar que a mudança na Ordem começou, senão no começo, então depois de 1725, quando o primeiro e o segundo grau eram dados juntos; a verdade pode-se encontrar nos documentos na Primeira Grande Loja da Inglaterra antes de 1725.
Alguns anos antes, quando todos esses problemas já se achavam em sua mente, Schröder havia escrito uma longa carta ao Grande Secretário, Irmão White, em Londres, solicitando detalhes ritualísticos. Esta carta, prova, que embora ele estava ciente sobre a existência das duas Grandes Lojas, ele não sabia as causas do surgimento dos “Antigos”. O rascunho foi enviado a Meyer para traduzir; Meyer devolveu com este comentário: “White certamente fará o melhor possível para ser explicito na sua resposta, mas se ele é forçado a ficar calado, isto é, confessar sua ignorância, então sabemos pelo menos que não podemos esperar muito de lá”.
Era somente natural, que nenhuma resposta se recebeu de Londres. A Grande Loja, naturalmente, declinaria de discutir assuntos concernentes ao Corpo rival e de qualquer modo, não estaria de acordo com o hábito inglês de discutir questões do Ritual por escrito e muito menos com um Irmão desconhecido.
Comentando sobre o discurso dirigido ao novo Aprendiz e a “Corda”, a opinião de Schröder é bem definida:
Toda esta aparelhagem não é bem adequada para um homem educado. Poderia ter sido inventada somente para as classes baixas e a resposta do Aprendiz confirma isto sem dúvida. Por outro lado, nenhum Construtor ou Mestre de Obras poderiam ter inventado isto, teriam eles tratado ou punido seus vigorosos trabalhadores desse modo.
Aqui vemos a influência de Herder bem clara. Num memorando para o rascunho de Schröder, ele escreveu:
Não pode ser negado, que o todo das cerimônias dos Maçons Operativos, são para nós estranhas e fora de moda e não contém nada de inspirador. Já no fim do século (17) isto foi sentido mesmo na Inglaterra onde as tradições das várias Artes eram tidas em alta estima. Portanto os símbolos mais finos de, por ex. Arquitetura, foram adicionados aos símbolos da pura Arte Operativa. Tomando isto em consideração, devemos evitar qualquer coisa grosseira; mesmo as perambulações não devem ser chamadas de provas perigosas e escabrosas …. Somente com muita cautela podemos preservar essas velhas usanças que ficaram para trás.
O nó corrediço e o cabo de reboque nos mostram falta de compreensão nas praticas ritualísticas Continentais. Que o candidato entrava na Loja, com uma corda no seu pescoço, foi dado um significado espiritual e simbólico pelos Franceses, indicando que ele ainda estava preso ao mundo profano fora da Loja. Esta interpretação, embora se ajustasse bem quando as suas idéias, não foi adotada por Schröder. O cabo de reboque na forma tradicional da obrigação, tem pouco significado para os Irmãos do Continente que não viajam. A corda com nós místicos em intervalos, que aparece com certa proeminência nos painéis das Lojas do Continente ou que e vista circundando as paredes do Templo, tem sido assunto para muita especulação. Ritualistas, como Boucher e Plantagenet deram longos comentários sobre ela e no dicionário de Ligou, é afirmado que este elemento decorativo poderia ter sido derivado do Brasão dos Eclesíastas e que um significado simbólico foi adicionado depois, ou seja, que esta corda representa a Fraternidade.
No “Three Distinct Knocks” ao joelho nu e uma explicação que até mesmo o autor anônimo acha uma “tolice”. Schröder comenta que a resposta não é uma sensível espiritualização particular”.
Durante o tempo em que analisava os textos que tinha em sua frente, Schröder nunca deixou de pedir conselho a Meyer. Por exemplo, quando ele procurou explanações do Compasso sobre o volume da Sagrada Lei. Meyer sentiu que a tradução das palavras “para nos conservar”, em alemão só podia significar “para todos os homens e especialmente a um Irmão”. Em outras palavras as Três Grandes Luzes são símbolos de nosso dever para com Deus, para nós mesmos e para com nosso próximo. O símbolo de união com os nossos Irmãos, e a forma da própria Loja, um retângulo. De acordo com o velho Ritual, o Compasso não e para desenhar, nem para unir, mas, para medir e determinar limites. Para nos conservar sujeitos, nada mais significa que preservarmo-nos dentro de limites. O Esquadro determina a precisão dos nossos passos para com nós mesmos. Assim o Volume da Sagrada Lei, deve simbolizar uma crença num Ser Superior, numa ordem do mundo mais elevada porque seria supérfluo deixa-lo simbolizar moral, porquanto o Esquadro e Compasso estão lá para esse fim.