ESCOCÊ RETIFICADO – R.E.R
No movimento histórico de consolidação da Maçonaria no Século XVIII, a França teve papel importante e de protagonismo na implementação de idéias e Lojas Maçônicas na Europa. Ilustres Maçons franceses entraram para a História da Humanidade por seus postulados e condutas pessoais, tendo como fundamento seus aprendizados e vínculos com a Maçonaria.
RITO RETIFICADO – RAMO DO ESCOCISMO
O Escocismo ou Escocesismo é uma forma de Maçonaria antiga que existia e entrou na França ainda antes da criação da Grande Loja da Inglaterra. É caracterizado por uma série de Ritos que nasceram na França a partir do ano 1649 e que tiveram um desenvolvimento bastante peculiar e sincrético (conciliando princípios de várias doutrinas),recebendo as mais variadas denominações e influências, querem filosóficas, morais, bíblico-judaicas, herméticas, rosacrucianas, templárias, políticas, religiosas e sociais, além dos modismos das épocas dos cavalheiros e das monarquias e reinados e também da História da Humanidade, tudo isto acontecendo num período bastante transformador de costumes.
REGIME OU RITO: RETIFICANDO O QUÊ?
do sistema e a do Rito com a prática ritual propriamente dita.
O Rito Escocês Retificado (RER) é assim chamado porque foi diversas vezes depurado em vários Conventos (Reuniões Maçônicas Magnas que duram várias semanas), daí o seu nome de “retificado”. Uma primeira reunião se deu em Colônia (Alemanha) onde se separou os elementos que se julgavam introduzidos na Maçonaria pelos Jesuítas. Os dois principais conventos foram os de Lyon (França) em 1778 e o de Wilhelmsbad (Alemanha) em 1782.
Outra ideia que se pode fazer do nome “retificado” é que o RER tem a pretensão, assim como os outros ritos da Maçonaria Universal, de retificar (corrigir, endireitar, alinhar) o Maçom, através de seus ensinamentos e rituais. Ou seja a retificação seria o equivalente ao proceso de lapidação da pedra bruta em pedra cúbica.
RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO
Por vezes o RER é confundido com o Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA), por ambos terem a palavra “escocês” no nome, mas como explicado o RER surge no século 18 enquanto o REAA tem uma formação bem posterior, no século 19: Em 12 de outubro de 1804 os grandes oficiais do Rito ESCOCÊS se reuniram, e em nova reunião de 22 de outubro de 1804, de Grande Consistório, formaram uma GRANDE LOJA ESCOCESA DE FRANÇA DO RITO ANTIGO E ACEITO, elegendo o príncipe Luiz Napoleão para Gr.: M.: e para seu Representante-Presidente o Conde Alexandre-François-August de GRASSE-TILLY, mas já em Dezembro do mesmo ano este estabeleceu um acordo com o Grande Oriente de França, delegando-lhe poderes para administrar, além dos 3 graus simbólicos, também os graus “inefáveis” de 4 até 18 (Rosa-Cruz). Mas quando em Julho de 1805 o Grande Oriente de França resolveu também administrar os restantes graus filosóficos, do 19 em diante, houve um rompimento entre as duas jurisdições, que só pôde ser sanado em 1821, quando o Rito Escocês Antigo e Aceito se reorganizou totalmente na França e se espalhou para os EUA e o resto do mundo.
Ou seja, tanto o RER quanto o REAA tem uma origem comum no Escocismo Francês, mas um não deriva do outro e cada um tem suas práticas ritualísticas próprias, sendo que não se pode considerar que um Rito Maçônico seja melhor do que o outro ou que o RER seja uma retificação do REAA, já que o RER surge historicamente bem antes do REAA.
O que importa é o Maçom siga um Rito no qual se harmonize, siga seus princípios e orientações e lapide sua pedra bruta de modo a ser um melhor filho, esposo, pai e cidadão, membro útil a sua comunidade, de modo a se reintegrar ao verdadeiro caminho que leva ao GADU.
MESTRES MAÇONS DO PASSADO
Em relação à contribuição para o surgimento do RER lembramos os nomes de Martinez de Pasqually, Barãovon Hund, Louis Claude de Saint Martin e seu principal propositor – cujas idéias são o fundamento doutrinário do Rito – JEAN BAPTISTE WILLERMOZ. Conhecer a biografia e as idéias iluminadas destes Mestres do Passado, por si só, constituem fonte de aprendizado e enlevo espiritual.
Martinez de Pasqually | Barão Von Hund | Louis Claude de Saint Martin |
Na ebulição da Maçonaria no inicio do século XVIII muitas frentes se abriram na Maçonaria da época e iniciativas de criar e torná-la mais pura e fiel as “origens” e as metas de desenvolvimento do potencial humano surgiram; dentre elas e como fundamento para a construção do RER estão a Maçonaria dos Sacerdotes Eleitos – Maçons Elus Cohen que tinha a doutrina espiritual de Martinez de Pasqually que acreditava que a prática ritualística poderia conduzir a um estado de pureza espiritual e uma reintegração aos propósitos e caminhos de Deus, cooperando com o processo transcendente de REINTEGRAÇÃO ao PAI, e, o rito da Estrita Observância Templária, do Barão von Hund, que propunha uma revisão no Rito Escocês, bastante difundido na época, retomando as tradições templárias do cavalheirismo e suas normas morais e éticas e seu compromisso com a tradição cristã.
RITO DA ESTRITA OBSERVÂNCIA
Era um rito da Maçonaria, uma série de graus progressivos que lhe foram conferidos pela Ordem da Estrita Observância, uma entidade maçônica do século XVIII. O Barão Karl Gotthelf Von Hund (1722-1776) introduziu um novo Rito Escocês para a Alemanha, que ele renomeou “Maçonaria Retificada” e, após 1764, a “Estrita Observância”, referindo-se ao sistema de inglês da Maçonaria como a “Observância Tardia”.
O Rito apelou para o orgulho nacional alemão, atraiu os que não eram nobres, e foi supostamente dirigida pelos “Superiores Desconhecidos”. A Estrita Observância era particularmente dedicada à reforma da Maçonaria, com especial referência para a eliminação das ciências ocultas que, na época era amplamente praticada em muitas lojas, e o estabelecimento de coesão e homogeneidade na Maçonaria por meio da imposição de uma disciplina rigorosa, a regulação das funções, etc. Foi dissolvida em 1782.
Foi este estado de declínio do Rito da Estrita Observância que inspirou ao Irmão Friedrich Ulrich Ludwig SCHRÖDER em dar um novo Ritual à Maçonaria Alemã que, segundo suas intenções e concepções representassem uma Maçonaria Humanista.
JEAN BAPTISTE WILLERMOZ
Para entendermos o R.E.R. temos que entender primeiro a Biografia de seu criador Jean Baptiste Willermoz (10 de julho de1730 – 29 de maio de 1824) Ele nasceu em Lyon, em pleno século das luzes, filho de um comerciante de sedas, com quem em momento de dificuldade, Willermoz aprendeu cedo aos 12 anos a produção e comercialização de sedas. Um ofício que lhe deixou com boas condições financeiras para seus estudos e serviços filantrópicos.
Willermoz iniciou-se na maçonaria em 1750 com 20 anos de idade e já em 1752 era Venerável Mestre de sua loja e um ano mais tarde fundou a sua loja “A Perfeita Amizade”, onde permaneceu Venerável por oito anos. Em 21 de novembro de 1756 obteve a filiação de sua loja na Grande Loja da França.
Em 1760, com 30 anos de idade, fundou uma segunda loja: “Os verdadeiros Amigos”, juntamente com o Venerável da sua primeira loja: “A Amizade”, o Ir∴ Jacques Irenée Grandon. Com as três lojas funda então uma obediência. Em 04 de maio de 1760 foi eleito presidente da “Grande Loja dos Mestres Regulares” de Lyon e com o Ir∴ Gandon recebeu do Conde de Clerment, o reconhecimento da Grande Loja da França com o direito de realização de estudos dos Altos Graus Escoceses.
Willermoz torna-se Grão Mestre da Grande Loja de Lyon em 1761 (aos 31 anos), é reelegido em 1762 e não aceita a reeleição 1763 em razão do aumento de tarefas e funções administrativas em detrimento de outros estudos que tinha interesse. Em 1764 juntamente com seu irmão Pierre-Jaques, funda “Capítulo dos Cavaleiros da Águia Negra”, onde seleciona os mais aplicados irmãos das Lojas de Lyon. Foi ele então iniciado em uma ordem que hoje se chamaria de para-maçônica, ou de aperfeiçoamento maçônico, a qual para ser membro precisava ser Mestre Maçom, a “Ordem dos Cavaleiros Elus Cohen do Universo”ou“Ordem dos Cavaleiros Maçons, Sacerdotes Eleitos do Universo”. Esta Ordem, fundada por Martinez de Pasqually, complementava os tradicionais três graus maçônicos (Aprendiz, Companheiro e Mestre), com um sistema de Altos Graus que buscava a reintegração do homem mediante a prática teúrgica. Essa Teurgia, em última instância, apoiava-se no relacionamento do homem com as hierarquias angélicas, única via, segundo Pasqually, para sua reconciliação com a Divindade.
Em face de uma dispersiva disparidade de Ritos e Sistemas Maçônicos na altura existentes Jean Baptiste Willermoz absorveu parte dos ensinamentos dos Elus Cohen, de seu Mestre Martinez de Pasqually, juntou com os ensinamentos maçônicos do Rito da Estrita Observância Templária, do Escocismo, e mais suas próprias inspirações e sabedoria acumulada ao longo de toda uma vida dedicada a Maçonaria e lançou então as bases do R.E.R. – Rito Escocês Retificado – em plena época da Revolução Francesa, um Rito que reflete todas essas tendências.
O R.E.R. não se separa totalmente da prática maçônica praticada na França na época, ou seja, do Escocismo e dos vários graus que sintetizados mais tarde irão em 1786 – 1787 vir a constituir um Rito Francês. É provavelmente o Rito mais próximo da Maçonaria Operativa de origem Medieval. Ou seja, da Maçonaria anterior a “24 de Junho de 1717” (fundação da Grande Loja de Londres).
É dentro do Cristianismo, um rito ecumênico, não restritivo a outras religiões, embora se baseie muito na figura de Cristo, mas não é um Rito Católico, é um Rito Cristão, no sentido de Yeshua, conforme descrito na Cabala Cristã da época da Idade Média.
Está ligado à mensagem de Amor e Tolerância do Novo Testamento sem detrimento da Justiça vinculada pelo Antigo Testamento e à “Ordem do Templo” em termos de Herança Espiritual e próximo da “Gnose Cristã”.
Castelo de Wilhelmsbad, en Hanau, Cidade dos Irmãos Grimm, na Alemanha, onde ocorreram as reuniões Maçônicas do Convento Geral que definiu as bases do RER em 1782.
Fonte: A∴R∴L∴S∴ LOUIS CLAUDE DE SAINT MARTIN 4353